Cosmocentrismo, a ética das civilizações indígenas e o direito de resistir ao extrativismo capitalista global: A experiência contemporânea dos Asháninka (Peru/Brasil)

Prof Stefano Varese e Dr. Carolina Comandulli
As concepções e modos de vida não antropocêntricos do povo Asháninka, da Amazônia peruana e brasileira, centram-se na ideia de que solo, água, ar, plantas, animais, humanos e o universo formam um contínuo onde vida, morte e tempo fluem; a vida é tudo e está em toda parte; e a vida é profundamente espiritual e sagrada. Os palestrantes propõem o conceito de “cosmocentrismo” para explicar isso e aventam a ideia de que a destruição desse princípio no capitalismo e no mundo ocidental permitiu a destruição progressiva do nosso próprio planeta. Eles também mostram como os Asháninka se adaptaram de forma criativa ao mundo contemporâneo, fazendo conexões e alianças globais para proteger seus modos de vida, a floresta amazônica e o próprio planeta.
Stefano Varese é um antropólogo e ativista ítalo-peruano, professor emérito da UC-Davis, na Califórnia, EUA, e fundador do Centro de Pesquisa Indígena das Américas. Ele publicou, entre outros livros, Las minorías étnicas y la comunidad nacional (Minorias étnicas e a comunidade nacional; 1974), Proyectos étnicos y proyectos nacionales (Projetos étnicos e projetos nacionais; 1983); Indígenas y educación en México (Povos indígenas e educação no México; 1983); Pueblos indios, soberanía y globalismo (Povos indígenas, soberania e globalismo; 1996); La ruta mixteca (A rota mixteca; em colaboração com Sylvia Escárcega, 2004); Witness to Sovereignty (2006); Bonfil y la civilización del común (Bonfil e a civilização do comum; 2013); The Art of Memory (2020); El arte del recuerdo (2021); e El bosque civilizado (A floresta civilizada, 2023). Ele também é coautor do livro Selva vida (Vida na floresta; 2013) com Frédérique Apffel-Marglin e Roger Rumrrill, e do livro coletivo intitulado Contemporary voices from Anima Mundi (Vozes contemporâneas de Anima Mundi; 2020), também em colaboração com Apffel-Marglin, que trata do conhecimento e espiritualidade em muitas comunidades ao redor do mundo. Em 2017, foi homenageado com a medalha Haydée Santamaría, um prestigiado prêmio concedido pela Casa de las Américas, Cuba. Carolina (Schneider) Comandulli é uma antropóloga e ativista brasileira que, desde o início dos anos 2000, tem trabalhado com povos indígenas nas florestas amazônica e atlântica, em níveis de pesquisa, profissional e pessoal. Ela ocupou posições-chave no governo e na formulação de políticas para interagir com a sociedade civil e organizações indígenas locais. Ela possui um Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um Mestrado em Antropologia e Ecologia do Desenvolvimento e um Doutorado em Antropologia pelo University College London (UCL). Atualmente, trabalha no Grupo de Pesquisa Extreme Citizen Science, no Centro de Antropologia da Sustentabilidade do Departamento de Antropologia da UCL.

Pontos de Aprendizagem

  • O que significa o conceito de “Cosmocentrismo” para os palestrantes? Como esse conceito nos ajuda a entender algumas das diferenças básicas entre ontologias indígenas — como as concepções e modos de vida dos Ashaninka de Apiwtxa no Brasil — e as concepções capitalistas ocidentais e práticas extrativistas em relação à Natureza, ao planeta Terra, ao Cosmos e à vida humana e não-humana? Quais são algumas dessas diferenças?
  • De acordo com os palestrantes, o que significa “excepcionalismo humano” e por que ele é antagônico ao “cosmocentrismo” e às ontologias indígenas?
  • Os Ashaninka de Apiwtxa no Brasil fornecem uma alternativa importante e relevante com seus modos de sentir/pensar e agir diante da crise civilizacional e ecológica que enfrentamos hoje. Quais são as maneiras que esse povo amazônico construiu para oferecer tal alternativa? O que podemos aprender com eles — a partir do Ocidente?