Rumo a uma Visão Mais Abrangente da Saúde no Antropoceno - A Sindemia da COVID-19 e o Conflito de Cosmografias em Mato Grosso do Sul, Brasil

Raquel Dias-Scopel, Daniel Scopel & Esther Jean Langdon
Em Mato Grosso do Sul, a COVID-19 trouxe um aumento substancial da carga de doenças entre os povos indígenas, em um contexto onde a saúde materna e infantil, doenças nutricionais e parasitárias já eram mais altas do que na população não indígena. A interação sinérgica entre o vírus SARS-CoV-2, outros patógenos e fatores biosociais resultou no que Singer (2010) denomina ‘sindemias’. Os esforços dos povos indígenas para enfrentar a pandemia revelam ‘um conflito’ entre as cosmografias indígena e colonial em relação às noções de corpo e saúde.
Raquel Dias-Scopel é pesquisadora sênior em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz/Mato Grosso do Sul e possui doutorado em antropologia social pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Ela realizou pesquisas entre povos indígenas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, bem como no Estado do Amazonas. Coordena pesquisas em antropologia médica e políticas de saúde pública para povos indígenas. Seus principais interesses de pesquisa são pluralismo médico, saúde/doença/processos de atenção e prevenção, sustentabilidade e participação social.

Daniel Scopel é pesquisador associado ao Instituto Nacional de Pesquisa: Brasil Plural e possui doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Participou como pesquisador pós-doutoral na Rede de Humanidades COVID-19 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em 2021. Desde 2022, detém uma bolsa de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz/Mato Grosso do Sul.

Esther Jean Langdon é pesquisadora do CNPq e Coordenadora do Instituto Nacional de Pesquisa: Brasil Plural – IBP (CNPq/INCT), além de ser co-coordenadora da rede de pesquisa do IBP sobre Saúde, Práticas Locais, Experiência e Políticas Públicas. Possui doutorado pela Universidade Tulane e se aposentou como professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina em 2014, permanecendo ativa como orientadora e professora voluntária. Seus artigos e livros sobre xamanismo, antropologia da saúde, literatura oral e performance são publicados em toda a América e Europa.

Pontos de Aprendizagem

  • O que o conceito de “cosmografia indígena” cunhado por Dias-Scopel e col. acrescenta ao debate sobre a invasão colonial e seu legado nas Américas?
  • O conceito de ‘cosmologia’ na antropologia lida com o universo de crenças e alteridade existente no contexto social, seja humano ou não humano. O artigo trabalha preferencialmente com a noção de ‘cosmografia’ e acrescenta uma camada a essa noção, pois traz a cosmologia para o território. Por que essa discussão é fundamental na situação de genocídio enfrentada pelos povos indígenas da América Latina desde a invasão colonial?
  • Quando o vírus SARS-CoV-2 atingiu o Brasil, as populações indígenas já viviam em circunstâncias de degradação ambiental, insegurança alimentar, racismo e violência estrutural. O surto agravou ainda mais a já severa carga de doenças. Além disso, seu impacto foi ampliado pela desastrosa política do governo federal brasileiro e pela má gestão da crise sanitária. Você pode mencionar três ações do governo Bolsonaro contra os povos indígenas do Brasil?