Situando a Epidemiologia Crítica Latino-Americana no Antropoceno - O Caso das Vacinas COVID-19 e Coletivos Indígenas no Brasil e no México

Laura Montesi, Maria Paula Prates, Sahra Gibbon & Lina Rosa Berrio-Palomo
Considerando a COVID-19 como ‘um exemplo paradigmático de uma doença do Antropoceno’ e baseando-se em pesquisas etnográficas coletadas no Brasil e no México durante campanhas de vacinação com Povos Indígenas, este artigo revisa e analisa o escopo e os limites da epidemiologia crítica latino-americana na abordagem da saúde no Antropoceno. As autoras argumentam que o foco relativamente diferencial na economia política, ecologia política e colonialismo/colonialidade na epidemiologia crítica latino-americana, juntamente com a atenção às experiências e compreensões de doenças não ocidentais, constituem um contraponto às abordagens epidemiológicas biomédicas e especificamente ‘euro-americanas’.
“Voltando ao mundo Nhanderu e Nhandesy” (Xadalu Tupã Jekup, Porto Alegre, Brasil, maio de 2021)
Laura Montesi é pesquisadora da CONAHCyT, baseada no CIESAS (Centro de Pesquisa e Estudos Superiores em Antropologia Social) em Oaxaca, México. Ela é uma antropóloga médica especializada no estudo de doenças e condições crônicas, particularmente entre populações indígenas, com foco nas disparidades de saúde. É coeditora dos livros Managing Chronicity in Unequal States: Ethnographic Perspectives on Caring (UCL, 2021) e Los huaves en el tecnoceno. Disputas por la naturaleza, el cuerpo y la lengua en el México contemporáneo (INAH-Editpress, 2022).

Maria Paula Prates é pesquisadora associada em Antropologia Médica do Antropoceno na University College London (UCL) e Professora Colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS, Brasil). Ela tem realizado estudos etnográficos entre os Guarani-Mbyá, na América do Sul baixa, nos últimos 20 anos. Seu interesse atual de pesquisa inclui parto, saúde sexual e reprodutiva e as desigualdades corporificadas do Antropoceno, com atenção especial às mulheres indígenas. Atualmente, é Investigadora Principal de dois projetos de pesquisa: o primeiro sobre tuberculose entre os Povos Indígenas Guarani-Mbyá, financiado pela UCL Social Sciences Plus, e o segundo sobre saúde sexual e reprodutiva (sob uma abordagem intergeracional) entre mulheres indígenas no Brasil, financiado pelo CHIRAPAQ.

Sahra Gibbon é Professora de Antropologia Médica na University College London (UCL). Ela realizou pesquisas etnográficas no Reino Unido, Cuba e Brasil, examinando questões relacionadas a desigualdades de saúde, biomedicina e saúde pública. Seu trabalho atual foca em examinar e intervir nas pesquisas e ciências “biosociais” em cortes de nascimento e ela é Investigadora Principal do projeto do Wellcome Trust The Embodied Inequalities of the Anthropocene. Building capacity in Medical Anthropology, uma colaboração com colegas no Reino Unido, México e Brasil.

Lina Rosa Berrio-Palomo é pesquisadora e professora no Centro de Pesquisa e Estudos Avançados em Antropologia Social (CIESAS, Pacífico Sur), Oaxaca, México. Seus temas de pesquisa incluem saúde sexual e reprodutiva, povos indígenas e afrodescendentes e antropologia feminista. Ela coordenou vários projetos de pesquisa sobre saúde materna em áreas indígenas e trabalha em colaboração com organizações de mulheres indígenas e organizações não governamentais. Seu trabalho atual se concentra na saúde reprodutiva dos afro-mexicanos e na parteira tradicional no México.

Pontos de Aprendizagem

  • Quais são as principais características da epidemiologia crítica latino-americana e por que é útil explorar questões de saúde como a pandemia de COVID-19?
  • De que maneiras as abordagens indígenas e euro-americanas sobre a vida podem dialogar entre si e oferecer caminhos alternativos para “viver (bem) em um planeta danificado”?
  • Como a “colonialidade” molda a hesitação em relação às vacinas?
  • Como perspectivas indígenas e interculturais podem nos ajudar a repensar noções de biologia e socialidade?
  • Como o Antropoceno (incluindo a experiência indígena da Covid-19) desafia a forma como o social é estruturado na Epidemiologia Crítica da América Latina?