Pode o subalterno (indígena) falar (no IPCC)

Dr Renzo Taddei
Povos tradicionais e populações indígenas têm sido sistematicamente retratados como vítimas indefesas das mudanças climáticas nos debates sobre sustentabilidade. Na agenda 2030 das Nações Unidas, com seus 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, por exemplo, eles aparecem como populações cujo patrimônio cultural e sobrevivência física precisam ser protegidos por governos e agências multilaterais. Contra essa tendência, é relevante que um dos relatórios de 2022 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reconheça o valor do conhecimento indígena e recomende que ele seja integrado aos processos de coprodução da governança ambiental, incluindo modelagem participativa e serviços climáticos. Mas como esse conhecimento indígena é realmente integrado a essas políticas criadas por cientistas ocidentais? Renzo Taddei nos mostra, por meio de uma análise do IPCC e do conhecimento gerado sobre mudanças climáticas, que o conhecimento indígena tem sido aclamado nos discursos de conservação, mas não tem sido utilizado de maneira adequada.
Renzo Taddei ensina antropologia e estudos de ciência e tecnologia na Universidade Federal de São Paulo, Brasil. Sua pesquisa foca nas dimensões socioculturais de como os seres humanos se relacionam com a atmosfera. Ele já escreveu sobre previsão climática, desastres, geoengenharia e conhecimento ambiental indígena. O Dr. Taddei é membro do comitê permanente de serviços climáticos da Organização Meteorológica Mundial. Ele foi professor visitante na Universidade de Yale, na Universidade Duke e na Universidade da República do Uruguai.

Pontos de Aprendizagem

  • O que é o IPCC? Que tipo de conhecimento ele gera?
  • O palestrante nos diz que a incorporação da sociedade ocidental se dá através de infraestruturas. Qual é a infraestrutura da qual Renzo Taddei está falando?
  • Por que Taddei afirma que o conhecimento indígena está presente no IPCC, mas não é utilizado corretamente?
  • Como podemos colocar as ideias de Kopenawa em diálogo com as ideias predominantes sobre o meio ambiente?
  • Os povos indígenas precisam de acadêmicos ou especialistas para falar em seu nome?
  • É simplesmente uma questão epistêmica de diferentes formas de entender a realidade? Se sim, quais são as implicações disso?
  • Quais são as estratégias de apagamento político das formas tradicionais de entendimento?