Série de Seminários EIA

A Série de Seminários Online EIA visa colocar os principais temas do projeto em uma perspectiva crítica, além de trazer à tona abordagens teóricas que, junto com a chave analítica do Antropoceno, podem fornecer uma visão sobre as abordagens na antropologia médica.

Alguns dos conceitos e abordagens discutidos nos seminários foram: bioetnografia (com Elizabeth Roberts), a questão da perspectiva ecoevolucionista (Francisco Vergara), o conceito de “cosmocentrismo” (com Stefano Varese e Carolina Comandulli) ou a ideia de metabolismo colonial (Megan Vaughan), ou conhecimentos indígenas (Dário Kopenawa; Renzo Taddei), e os problemas decorrentes da agroindústria (Jean Segata; Andrea Mastrangelo).

Cada uma dessas abordagens pode ser aplicada ao trabalho antropológico interessado nas desigualdades sociais corporificadas através de dinâmicas que envolvem exploração, colonização, extração e invisibilização de grupos sociais humanos ou mais-que-humanos.

Ep1: Matéria Plástica: Sobre Materialidade, Plasticidade e Toxicidade

Dialogando com epistemologias indígenas, como as dos Lenape dos Estados Unidos, Davis começa analisando a presença do plástico no meio ambiente, seu efeito nos corpos e como a infraestrutura ocidental torna essa invasão invisível. O plástico e sua toxicidade, assim como sua criatividade, são um evento planetário associado à ideia de uma noção tecnocientífica evolutiva, à revolução industrial, à expansão do capitalismo como uma ontologia, ao capitaloceno e ao antropoceno. Essas habilidades do plástico como agente não-humano se desdobram de diversas formas, como o desenvolvimento de doenças, como certos tipos de câncer, Alzheimer ou bactérias que se alimentam de plástico. O plástico, como nos ensina Davis, faz parte de uma infraestrutura invisível aos olhos até que começa a transbordar por toda parte.

Ep2: Enfrentando o chumbo na Cidade do México

Como o chumbo está relacionado a processos sociais, econômicos, biológicos e técnicos em certas comunidades? Elizabeth Roberts nos mostra que o chumbo influencia a cultura e a vida cotidiana em bairros operários da Cidade do México. No entanto, os problemas de saúde são atribuídos pelos interlocutores, não à toxicidade do chumbo, como defendem os profissionais de saúde pública, mas aos pesticidas. Através da “bioetnografia”, um método que combina abordagens das ciências sociais, como a etnografia, e das ciências biológicas, como estudos biomédicos de longo prazo, este seminário chama a atenção para as desigualdades vividas por grupos desfavorecidos na Cidade do México, como a toxicidade presente nos alimentos devido ao uso abusivo de agrotóxicos.

Ep3: Pode o subalterno (indígena) falar (no IPCC)

Povos tradicionais e populações indígenas têm sido sistematicamente retratados como vítimas indefesas das mudanças climáticas nos debates sobre sustentabilidade. Na agenda 2030 das Nações Unidas, com seus 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, por exemplo, eles aparecem como populações cujo patrimônio cultural e sobrevivência física precisam ser protegidos por governos e agências multilaterais. Contra essa tendência, é relevante que um dos relatórios de 2022 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reconheça o valor do conhecimento indígena e recomende que ele seja integrado aos processos de coprodução da governança ambiental, incluindo modelagem participativa e serviços climáticos. Mas como esse conhecimento indígena é realmente integrado a essas políticas criadas por cientistas ocidentais? Renzo Taddei nos mostra, por meio de uma análise do IPCC e do conhecimento gerado sobre mudanças climáticas, que o conhecimento indígena tem sido aclamado nos discursos de conservação, mas não tem sido utilizado de maneira adequada.

Episódio 4: A mineração ilegal no Território Indígena Yanomami no Brasil e suas consequências para o meu povo

Nas terras indígenas Yanomami, humanos, animais e o meio ambiente têm sofrido com a devastação territorial causada pela exploração mineral desde os tempos coloniais. Nesta série de seminários, Dario Kopenawa, líder indígena Yanomami, denuncia os efeitos perversos da mineração ilegal em território indígena, que têm causado doenças, bem como a morte de animais, plantas, rios, pessoas e suas culturas. Kopenawa destaca os impactos da contaminação por mercúrio no meio ambiente e critica o governo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro por esta crise sanitária e humanitária e suas consequências devastadoras.

Ep5: A ‘conquista do México’ e o ‘antropoceno irregular’: reinterpretando um episódio da história das Américas a partir de uma perspectiva de antropologia multiespécies e ecoevolucionista

Este episódio explora a Conquista do México a partir de uma perspectiva multidisciplinar, com foco na Antropologia Multiespécies e na Ecoevolução para entender os eventos históricos de 500 anos atrás no atual continente americano, destacando a introdução de espécies não nativas pelos europeus e seu impacto nos ecossistemas e sociedades indígenas. Com base no trabalho apresentado por Anna Tsing e colegas, através do “Atlas Feral”, Francisco Vergara-Silva reflete sobre como as interações entre humanos e outras espécies moldaram a história e a ecologia. O conceito de “antropoceno irregular” é introduzido para sugerir que o impacto humano é irregular e localizado, com consequências ecológicas específicas e significativas. Finalmente, a ideia de “construção de nicho” é proposta para analisar a coevolução e adaptação das espécies ao longo do tempo, fornecendo uma perspectiva mais ampla sobre a influência humana no meio ambiente, antes e depois da Conquista.

Ep6: Alimentando o fim do mundo: agronegócio, pandemias e Antropoceno no Brasil

No contexto da indústria de carne brasileira, uma gramática violenta, que catalisa relações assimétricas em ambientes altamente prejudiciais à saúde, opera por trás de um ideal de crescimento econômico. As fábricas de processamento de carne que invadiram o Brasil são baseadas em formas de operar frequentemente ocultas que estruturam desigualdades, como pobreza, racismo e discriminação, impactando negativamente a vida e o bem-estar das populações humanas e não-humanas. Com base na etnografia multiespécies, a análise proposta por Segata nos permite expandir a ideia da população afetada para além dos seres humanos. Segata questiona nossas escolhas (ou o que temos disponível como escolha) ou como a maneira como nos alimentamos está alimentando o fim do mundo?

Ep7: Dentro da edição especial da Medicine Anthropology Theory

Esta sessão de seminário abrange o conteúdo da edição especial da Medicine Anthropology Theory, editada pelo coletivo Desigualdades Corporificadas do Antropoceno e com a participação de colaboradores.

Ep8: Cosmocentrismo, a ética das civilizações indígenas e o direito de resistir ao extrativismo capitalista global: A experiência contemporânea dos Asháninka (Peru/Brasil)

As concepções e modos de vida não antropocêntricos do povo Asháninka, da Amazônia peruana e brasileira, centram-se na ideia de que solo, água, ar, plantas, animais, humanos e o universo formam um contínuo onde vida, morte e tempo fluem; a vida é tudo e está em toda parte; e a vida é profundamente espiritual e sagrada. Os palestrantes propõem o conceito de “cosmocentrismo” para explicar isso e aventam a ideia de que a destruição desse princípio no capitalismo e no mundo ocidental permitiu a destruição progressiva do nosso próprio planeta. Eles também mostram como os Asháninka se adaptaram de forma criativa ao mundo contemporâneo, fazendo conexões e alianças globais para proteger seus modos de vida, a floresta amazônica e o próprio planeta.

Ep9: Um metabolismo colonial: alimentação, nutrição e extração no Malaui

Este seminário propõe a ideia de metabolismo colonial para entender como as comunidades rurais do Malauí adaptaram seus sistemas alimentares no meio do século XX e quais podem ser as consequências disso no contexto contemporâneo de insegurança alimentar e práticas agroindustriais. Este seminário destaca como as práticas de extração colonial devem ser situadas em dinâmicas socioecológicas mais amplas que incluem a violência lenta e a adaptação.

Ep10: Emaranhados ambientais e saúde: em que era estamos vivendo?

O que a agrofloresta industrial na região de Santo Tomé, na conexão do Brasil com a Argentina, tem a ver com a disseminação da Covid-19, incêndios e desigualdades sociais na região? Combinando uma perspectiva antropológica feminista e preocupada em mostrar como a técnica emergente impulsionada pelo agronegócio cria ambientes e oferece outras formas de exclusão social, Andrea Mastrangelo analisa as catástrofes ambientais, como os incêndios, que devastaram esta região da Argentina, mostrando como a modificação do bioma local e a introdução de biotecnologias em favor do agronegócio resultaram em incêndios, mas também em síndromes, secas, inundações de rios e uma diminuição no fornecimento de alimentos e água. A era do Antropoceno revela como a indústria baseada na exploração se apropria de processos biológicos em favor da acumulação de capital, como se a natureza estivesse realizando um trabalho não remunerado, assim como as mulheres.