Os Huaves no Tecnoceno: Disputas sobre a Natureza, o Corpo e a Língua no México Contemporâneo

Editado por Francesco Zanotelli e Laura Montesi
Após pelo menos mil anos de transformações no istmo de Oaxaca, o povo Huave entra no século XXI enfrentando mudanças mais profundas e vertiginosas do que nunca. O seu ambiente terrestre e marinho, a pesca, a alimentação, os seus corpos, as suas festas e a sua cosmovisão, dão um relato em tempo real de uma onda avassaladora impulsionada tanto por fatores internos quanto externos. Essa onda abrange elementos dos mais diversos, como os novos equipamentos de pesca que desafiam o cayuco e a atarraya, o avanço das igrejas evangélicas, a economia local em torno do consumo de cerveja, a luta das parteiras contra o parto medicalizado, uma língua que se renova para continuar existindo e as promessas de desenvolvimento e destruição de megaprojetos como parques eólicos ou o Corredor Interoceânico. A época em que essas mudanças estão situadas é o Tecnoceno, um estágio da vida na Terra em que as tecnologias reproduzem trocas desiguais, e cujas relações sociais injustas, estabelecidas desde a Conquista, agora estão escondidas sob técnicas e instrumentos. O que acontece com os modos de vida, identidades e subjetividades em um momento em que a incessante economia extrativista influencia a maioria dos processos existenciais dos Huaves, desde o momento do nascimento até a forma como morrem, cada vez mais devido a complicações de diabetes? Esses 13 ensaios, escritos conscienciosamente por pesquisadores que dedicaram boa parte de suas vidas a entender os ikoots/ikojts/konajts, envoltos e macerados em rigorosa pesquisa bibliográfica, nos oferecem um vislumbre deste novo momento — um momento definidor — na vida desses povos lagunares. As questões que abordam, no final, desafiam todos nós. Clique na imagem para acessar o livro.
Francesco Zanotelli, PhD em Antropologia Social pela Universidade de Turim, é professor associado e pesquisador em Antropologia Social no Departamento SAGAS da Universidade de Florença, Itália. Ele publicou extensivamente sobre redes de dívida, finanças domésticas e rituais no México Ocidental e sobre parentesco, trabalho, migração e bem-estar social na Toscana, Itália. É autor da monografia “Santo Dinero” (última edição 2012) e coeditor, com Simonetta Grilli, do livro “Scelte di famiglia. Tendenze della parentelea nella società contemporanea” (2010). Desde 2010, ele se mudou etnograficamente para o Istmo de Tehuantepec, Oaxaca, pesquisando a transição ecológica e as ideias divergentes sobre sustentabilidade, com um olhar específico para os conflitos políticos e ontológicos entre o povo Ikojts (Huave), a indústria energética transnacional e o Estado.

Laura Montesi é antropóloga social especializada no estudo dos processos de saúde/doença/cuidado/prevenção. Seus tópicos de interesse incluem a relação entre saúde e desigualdades sociais; doenças crônicas não transmissíveis, especialmente diabetes e distúrbios metabólicos; alimentação e nutrição; crises socioambientais e saúde no Antropoceno. Ela desenvolve seu trabalho etnográfico em comunidades indígenas do Istmo de Tehuantepec e dos Vales Centrais do estado de Oaxaca, e tem acompanhado vários projetos e experiências de base no campo da reconstrução pós-desastre, cuidado coletivo e organização comunitária.

Pontos de Aprendizagem

  • O que acontece com os modos de vida, identidades e subjetividades em um momento em que a incessante economia extrativista influencia a maioria dos processos existenciais dos Huaves, desde o momento do nascimento até a forma como morrem, cada vez mais devido a complicações de diabetes?
  • Como os editores e autores desta coletânea de ensaios concebem o Tecnoceno?
  • Como as tecnologias se fazem presentes nas vidas humanas e não humanas?
  • Como o povo Huave no México enfrenta, experimenta e lida com as muitas mudanças antropocênicas em seus corpos, territórios e línguas?