Após pelo menos mil anos de transformações no istmo de Oaxaca, o povo Huave entra no século XXI enfrentando mudanças mais profundas e vertiginosas do que nunca. O seu ambiente terrestre e marinho, a pesca, a alimentação, os seus corpos, as suas festas e a sua cosmovisão, dão um relato em tempo real de uma onda avassaladora impulsionada tanto por fatores internos quanto externos. Essa onda abrange elementos dos mais diversos, como os novos equipamentos de pesca que desafiam o cayuco e a atarraya, o avanço das igrejas evangélicas, a economia local em torno do consumo de cerveja, a luta das parteiras contra o parto medicalizado, uma língua que se renova para continuar existindo e as promessas de desenvolvimento e destruição de megaprojetos como parques eólicos ou o Corredor Interoceânico. A época em que essas mudanças estão situadas é o Tecnoceno, um estágio da vida na Terra em que as tecnologias reproduzem trocas desiguais, e cujas relações sociais injustas, estabelecidas desde a Conquista, agora estão escondidas sob técnicas e instrumentos. O que acontece com os modos de vida, identidades e subjetividades em um momento em que a incessante economia extrativista influencia a maioria dos processos existenciais dos Huaves, desde o momento do nascimento até a forma como morrem, cada vez mais devido a complicações de diabetes? Esses 13 ensaios, escritos conscienciosamente por pesquisadores que dedicaram boa parte de suas vidas a entender os ikoots/ikojts/konajts, envoltos e macerados em rigorosa pesquisa bibliográfica, nos oferecem um vislumbre deste novo momento — um momento definidor — na vida desses povos lagunares. As questões que abordam, no final, desafiam todos nós.
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